Mormo

Mormo: Um desafio sem cura para os equinos

 

O Brasil possui o maior plantel de equinos da América Latina e o terceiro maior do mundo, suportando mais de 30 segmentos do agronegócio entre insumos, criação e destinação final, gerando cerca de 3.2 milhões de empregos diretos e indiretos.

 

A Mormo é considerada uma das mais antigas doenças de equinos, tendo o seu primeiro registro em território nacional no ano de 1811, provavelmente introduzida por animais trazidos da Europa. É uma doença infectocontagiosa causada pela bactéria Burkholderia mallei, que também pode acometer o homem, animais carnívoros e eventualmente os pequenos ruminantes, o que a caracteriza como zoonose. Tem alta morbidade e letalidade, e ocorre em diferentes partes do mundo.

 

A principal via de infecção é a digestiva, seguida pelas vias respiratória, genital e cutânea. A disseminação da bactéria no ambiente ocorre por meio dos alimentos (forragens, rações, melaço), água e fômites (principalmente cochos e bebedouros). Os microrganismos penetram na mucosa do trato gastrointestinal e se dirigem à corrente sanguínea, causando septicemia e bacteremia. Animais infectados apresentam lesões primárias no ponto de entrada (faringe) e lesões nodulares no sistema linfático. As lesões metastáticas ocorrem principalmente nos pulmões, mas podem aparecer também em baço, fígado e pele. O septo nasal pode ser acometido por lesões primárias de origem hematógena ou secundárias a lesões pulmonares. O período de incubação pode chegar a 14 dias, mas geralmente os sintomas aparecem num prazo de 5 dias, embora casos crônicos possam levar meses para apresentar sinais.

 

Os sinais clínicos iniciais incluem febre, tosse e corrimento nasal. As lesões inicialmente nodulares tendem a evoluir para úlceras e quando cicatrizam apresentam formato de estrela. Estas lesões são mais frequentes na fase crônica, que pode apresentar três diferentes manifestações clínicas: respiratória, linfática e/ou cutânea. As lesões pulmonares crônicas que se rompem nos brônquios e infectam as vias aéreas superiores, contaminando as secreções nasais e orais, são a principal via de excreção da Burkholderia mallei para o ambiente. Na fase final da doença, os animais apresentam broncopneumonia com progressão de anóxia, levando ao óbito.

 

Algumas pesquisas relacionam o manejo inadequado com a disseminação da doença, já que animais infectados e portadores assintomáticos são importantes fontes de transmissão e infecção. Os seres humanos podem ser infectados pela bactéria B. mallei através da inalação ou contato com as secreções de um animal contaminado presentes em bebedouros, arreios e outras ferramentas.

 

O diagnóstico da Mormo consiste na associação das manifestações clínicas, achados de necropsia, isolamento bacteriano, dados epidemiológicos, reação imunoalérgica pelo teste de maleina e testes sorológicos como os de fixação de complemento e ELISA. Oficialmente, para fins de diagnóstico e controle da enfermidade no território nacional, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) recomenda apenas os testes de fixação de complemento (FC) e teste de maleina. Em casos de resultados inespecíficos, o exame de Western Blotting pode ser realizado.

 

Embora o Mormo tenha sido erradicado em vários países, recuperou o status de doença reemergente devido aos recentes surtos – principalmente na América do Sul. Em 2018 foram registrados 29 casos de Mormo no Brasil, sendo a maioria em Pernambuco. No primeiro semestre de 2019 tiveram 7 focos confirmados em todo o território: 2 em Pernambuco, 2 em São Paulo, 1 em Alagoas, 1 no Ceará e 1 na Bahia.

 

O estado de São Paulo passou anos sem que houvessem reportes da doença, porém ela voltou a ser detectada em 2013 em Araçariguama. Esta ocorrência procedeu a alteração da legislação do estado, que passou a exigir exame negativo para o trânsito de equídeos. De 2013 a junho de 2019 foram realizados 850.000 exames de triagem para mormo nos laboratórios credenciados pelo MAPA, detectando-se 228 casos suspeitos, 30 ocorrências confirmadas em 24 municípios do estado paulista, somando 123 animais portadores da doença.

 

Por não ter cura e nem vacina, o Mormo é uma doença de notificação imediata de qualquer suspeita à Defesa Sanitária. As medidas de profilaxia e controle recomendadas pelo MAPA incluem a interdição das propriedades com focos comprovados para saneamento, eutanásia dos animais positivos por profissionais do Serviço de Defesa Sanitária, cremação dos cadáveres no próprio local e desinfecção de todo o material que teve possível contato com estes animais e seus alojamentos. O bloqueio e suspensão do trânsito de animal da propriedade permanece por até 120 dias após o último caso constatado.

 

Além disso, no Programa Nacional de Sanidade de Equídeos (PNSE) a Instrução Normativa nº 06/2018 torna obrigatório o exame negativo de Mormo para o controle de trânsito de equídeos em todo território brasileiro e participação em eventos hípicos, obedecendo prazo de validade e declarando que estes não apresentam sintomas da doença.

 

Ainda na Instrução Normativa nº 06/2018, para uma zona ser declarada livre do Mormo é necessário que ela não apresente registros de caso confirmado da doença por três anos consecutivos, além de exigir os testes negativos para a circulação de animais, e um programa de vigilância epidemiológica com estudo soroepidemiológico da população regional de equídeos que demonstre ausência de infecção por ao menos 12 meses. Cumpridas as exigências, o MAPA declara e publica a autodeclaração da área libre e encaminha o pleito à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) para o reconhecimento internacional de ausência da enfermidade. Infelizmente a doença ainda tem sido notificada em quase todo o território nacional.

 

Para manutenção da saúde e do bem-estar dos equinos, os produtores precisam investir em três pilares fundamentais: manejo, sanidade e nutrição adequados. 

O risco de transmissão é maior enquanto permanecerem as condições de insalubridade e aglomeração dos equinos nas áreas onde ocorra a doença, onde as secreções são transmitidas diretamente através do contato com animais sadios ou indiretamente através de utensílios usados no manejo.

 

Consulte o Médico Veterinário para a escolha do melhor protocolo.

 

Referências:

HIRSH, D. C., ZEE, Y. C.; Microbiologia Veterinária. 1a Ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003, p. 446.

MAPA, 2015. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em www.agricultura.gov.br.

MOTA, R. A. Aspectos etiopatológicos, epidemiológicos e clínicos do mormo. Vet. E Zootec. V.13, n.2, p.117-124, 2006. 

PRITCHARD, D. G. Glanders. Eq. Vet. Educ. v. 7, p. 29, 1995.

RADOSTITS, O. M.; AY, C. C.; BLOOD, D. C.; HINCHCHCLIFF, K. W. Clínica Veterinária. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002, p. 1737. 

 

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