Esparavão Ósseo

Esparavão Ósseo
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Uma revisão sobre os impactos do Esparavão Ósseo (Osteoartrite Társica)

O tarso é considerado uma grande articulação composta formada pela tíbia, ossos do tarso (três fileiras ósseas compostas pelo talus e calcâneo na fileira proximal, um osso társico central na fileira intermediária, primeiro e segundo ossos társicos fundidos e terceiro e quarto ossos társicos separados na fileira distal) e ossos do metatarso (I, II e III). Dentro deste grande conjunto, existem cinco articulações independentes: articulação tarsocrural, articulação talocalcânea, articulação intertársica proximal, articulação intertársica distal e articulação tarsometatársica.

O Esparavão Ósseo, também conhecido como Osteoartrite Társica, é uma patologia articular comum em equinos atletas, caracterizada por um processo de deterioração progressiva da cartilagem articular juntamente com alterações dos ossos e tecidos moles que compõem a articulação do tarso. Embora seja mais frequente em animais adultos, a osteoartrite társica pode ocorrer em animais jovens submetidos à exercícios intensos. Sua maior incidência é em animais que praticam atividades com alta exigência de galope e meio galope como salto, apartação, vaquejada, animais de tração e que praticam equitação estilo western. Mas, vale ressaltar que a patologia também acomete animais de marcha.

Esta afecção ocorre com mais regularidade na articulação intertársica distal, seguida da articulação tarsometatársica e, ocasionalmente, na articulação intertársica proximal.

A etiologia da osteoartrite társica é incerta, podendo estar até mesmo relacionada com problemas de conformação, mas o estresse mecânico e repetitivo sobre a região durante nível máximo e/ou carga excessiva de exercícios, compressão e sucessivas rotações dos ossos társicos, junto à tensão excessiva dos ligamentos, desempenham um papel significativo no desenvolvimento da afecção.

Sinais Clínicos

A perda progressiva da estrutura e, consequentemente, da função da cartilagem articular, assim como alterações no osso subcondral e sinóvia, são componentes da síndrome clínica da osteoartrite.

 

A manifestação clínica ocorre através de claudicação leve e progressiva, que pode ser unilateral ou bilateral, além da relutância para realizar alguns movimentos típicos dos exercícios aos quais são submetidos. Durante a locomoção, o equino apresenta diminuição do arco de flexão da articulação társica, ou seja, é observada redução do arco de elevação do membro e um encurtamento da fase cranial do passo. Alguns animais, quando sobrecarregados durante o trabalho sucessivo, apresentam piora na claudicação e melhoram com repouso.

Na fase aguda, os animais apresentam claudicação evidente a frio e perceptível melhora ao serem exercitados. Já na fase crônica, o exercício piora o nível de claudicação. Em alguns animais não há manifestação clínica (forma subclínica da doença), e a afecção pode ser apenas um achado radiográfico.

A osteoartrite é uma afecção de progressão lenta, o que faz com que os sinais clínicos clássicos de claudicação demorem a aparecer. Apenas 24% dos animais com osteoartrite társica apresentam claudicação ao exame clínico.

Diagnóstico

O diagnóstico é baseado na anamnese e avaliação clínica do sistema locomotor, incluindo inspeção (palpação) das articulações. Jarretes em foice e cambaios predispõem ao desenvolvimento do esparavão ósseo devido o maior estresse sofrido pela face medial do jarrete.

O teste de flexão, que consiste em manter a articulação flexionada de forma forçada por aproximadamente 2 minutos, seguido de trote do cavalo em linha reta, frequentemente intensifica a claudicação do animal. Além deste teste, os bloqueios anestésicos intra articulares auxiliam na precisão do diagnóstico.

Os achados radiográficos compatíveis com esparavão ósseo abrange irregularidades nas margens das articulações, presença de osteófitos periarticulares, perda evidente do espaço articular, anquilose e esclerose, e lise do osso subcondral. Em um estudo realizado por Garcia et. Al (2009) a formação de osteófitos estava presente em 68,3% dos animais radiografados, já esclerose e estreitamento do espaço articular estava presente em 38,3%. A articulação intertársica distal foi a mais acometida (75%), seguida da tarsometatársica (25%), não sendo observadas alterações na articulação intertársica proximal.

Embora seja possível fechar o diagnóstico clínico com o exame físico e as radiografias, a ressonância magnética tem sido cada vez mais utilizada e indicada como exame padrão ouro até mesmo para facilitar a observação de anormalidades ósseas que passam despercebidas ou pouco significativas no exame radiográfico.

Tratamento

O tratamento a ser realizado está sempre diretamente relacionado à gravidade das lesões, variando de tratamento clínico com anti-inflamatórios não esteroidais (AINES), repouso e uso de ferraduras corretivas, associado ou não a infiltrações intra articulares de corticóides e/ou ácido hialurônico. O objetivo é limitar ou eliminar a dor do animal.

Associação da fisioterapia ao tratamento do esparavão ósseo vem sendo cada vez mais frequente, principalmente aparelhos de campo magnético e shockwave.

Em casos de esparavão ósseo refratário ao tratamento clínico, é possível realizar procedimentos mais invasivos, como fusão ou artrodese das articulações envolvidas, alívio da pressão regional pela tenotomia do tendão cuneano, e neurectomia do nervo tibial.

Os bifosfonatos (Tildren®) são uma opção importante para o tratamento da patologia,  uma vez que uma de suas propriedades é o fortalecimento ósseo, além de ter características condroprotetoras, analgésicas, anti-inflamatórias, entre outras. Os bifosfonatos atuam diminuindo a remodelação óssea agindo sobre as células precursoras dos osteoclastos. Sua utilização tem apresentado eficácia e bons resultados no tratamento de doenças osteoarticulares equinas, com resultados mais favoráveis ao animal do que intervenções cirúrgicas, já que o medicamento  tem múltipla atuação, protege e fortifica as articulações.

Doenças articulares, como o esparavão ósseo, são de demasiada importância para o universo do cavalo atleta, e geram grandes preocupações quando interferem diretamente na perda de rendimento do animal, ocasionada pela dor. Os tratamentos têm evoluído para cada vez menos invasivos, com drogas mais eficientes, e que permitem que o animal continue na ativa por mais tempo, mantendo sua qualidade de vida.

Consulte o Médico Veterinário para a escolha do melhor protocolo.

 

Referências:

GARCIA, Rodrigo da Silva et. al. Estudo clínico e radiográfico da osteoartrite társica juvenil em potros da raça Mangalarga Marchador. Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 1, p. 254-260, jan./mar. 2009.
Melo U.P., Ferreira C., Fiorio R., Mury F.F. & Santos P.M. 2007. Esparavao osseo juvenil em equinos: estudo de quatro casos. Anais Sem. Atual. Cienc. Vet. FACASTELO. Castelo, ES. CD.
TOMASSIAN, Armen. Enfermidades dos cavalos, 4. ed. São Paulo:Varela, p. 133-134, 2005.
SOTO, S.A., BARBARÁ, A.C. 2014. Bisphosphonates: Pharmacology and Clinical Approach to Their Use in Equine Osteoarticular Diseases. Journal of Equine Veterinary Science v. 34 (2014), p. 727–737.

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